Crítica do filme Lady Macbeth
Adaptação
do livro “Lady Macbeth do Distrito Mtzensk”, de Nikolai Leskov, este filme
começou promissor e depois foi escalando apenas em direção ao fundo do poço em
todos os sentidos.
Aviso: Aqui há muitos spoilers. ;)
Aviso: Aqui há muitos spoilers. ;)
Presa em
um casamento de conveniência e vendida ao marido, vemos a jovem Katherine sofrendo
com a opressão deste, do sogro, e a partir daí teríamos uma boa base para
críticas sociais, patriarcado, opressão das mulheres e vários temas que se
tivessem sido bem manejados poderiam ter rendido um bom filme. Não é o caso.
O
filme incomoda. Imagino que essa tenha sido a intenção. Porém, o que no começo
renderia um bom pano de fundo para críticas, como falei acima, quando não
deixam Katherine dormir, nem o marido, nem o sogro e nem mesmo a empregada...
aquilo é horrível de se ver. A forma como a empregada penteia os cabelos dela
incomoda, é feita com violência. Quando a mesma empregada, Anna, dá banho nela
com água superquente, incomoda. Quando o sogro de Katherine trata Anna como um
animal, também. Quando Anna entra no quarto de Katherine todos os dias e abre
as janelas com ela dormindo, é um incômodo também. A forma como o marido de
Katherine lida com o sexo com ela também incomoda. Deveríamos simpatizar com
Katherine? Talvez, mas fica difícil, ainda mais quando se vê Anna em uma
situação grotesca em meio a vários homens em que Katherine praticamente repete
frases que o marido lhe diz e se insinua para um dos homens em vez de fazer
realmente algo em relação ao que estava acontecendo com Anna.
No
decorrer do filme notamos que há algo bem quebrado em Katherine, mas não dá
para torcer por ela. A história se perde quando vemos questões tão sérias
tratadas com uma leviandade que chega a dar raiva.
Não
aguento mais essas histórias em que a mulher é o mal encarnado e coisas do
gênero. Katherine é inicialmente oprimida, sim, mas ela é mais opressora de
modo geral. Eu não espero não que todos os filmes sejam feministas e retratem
bem as mulheres. É muito utópico. Eu realmente gostei de “Garota Exemplar”, e Amy é terrível! A
impressão que tive e que ainda está na minha mente é de que Anna parecia ter
raiva de Katherine, e Katherine usa Anna para se livrar de situações, assim
como ela usa o próprio amante e todos que a cercam, isso quando ela não os
mata, pura e simplesmente. Sem motivações reais. Sem nem mesmo poder ser
considerada uma tremenda de uma psicopata. É vazio... eu fiquei esperando que
em algum momento Anna fosse pelo menos tentar não ajudar a oprimir Katherine,
que a empregada, também mulher, fosse simpatizar com a jovem, isso antes de
Katherine começar a matar como uma serial killer.
Eu confesso que amo
histórias de serial killers... embora não goste deles na vida real... quando os personagens têm uma profundidade
psicológica. Não é o caso aqui. Katherine é vazia. Não consegui sentir nem
tanta raiva dela, apenas fiquei inconformada com o quanto de potencial em
termos de contação de história, de mensagens e de profundidade psicológica
poderia ter sido explorado e não foi.
Quando
a cena mais legal do filme foi o gato sentado na cadeira... quando as ações
pareciam não ter cabimento, como uma cena específica que parece estar ali apenas
por puro impacto visual, já que não fez sentido nenhum na trama... quando já
daria para desconfiar no mínimo que havia algo de podre ali no reino de
Katherine... e pessoas vêm até ela e... bem, todo o desenrolar em seguida é
desprovido de emoção, o que deveria ser chocante é apenas mais um motivo para
eu me perguntar por que diabos eu não me levantava da cadeira e ia embora... Bem,
quando eu vi, finalmente o filme tinha acabado. Assim, do nada. E a sensação de
gosto residual ruim ficou. Até hoje! (Faz um tempinho que vi esse filme.)
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Melhor personagem do filme! |
Não se
explorou questões raciais, nem se atacou o patriarcado, nada disso. Não é luta
contra opressão matar as pessoas da forma como ela mata. Por que ela mata? Não
se sabe. Embora a atuação de Florence Pugh seja excelente e se encaixe no papel,
um dos muitos problemas do filme está na personagem em si.
Sabe
aquilo de “psicopata X, eu entendo porque você fez isso, embora eu não aceite
suas ações”? Como em “Precisamos falar sobre Kevin”. Até mesmo o valentão do
remake de “It - A coisa”, que faz bullying com as crianças tem mais profundidade
psicológica, e foram poucos os minutos dedicados a mostrar os motivos que o
levavam a agir daquela forma em “It”, assim como acontece com o também valentão Bill de "Stranger Things". "Lady Macbeth" teve mais de uma hora para
lidar com isso e o que temos? Katherine? Vazia. Rasa. O amante? Sinistro no
começo, tentando se redimir no final, mas apenas um pouco menos vazio que
Katherine. Há momentos até em que ela parece um eco distorcido de Amy, de “Garota
Exemplar”. Como se ela quisesse ser alguém mais profundo, mas não é. Ela é tão
rasa quanto uma poça formada por uma chuva rápida de verão.
O
filme não tem empoderamento feminino, como vi alguns sugerirem. Não, de forma
alguma. Katherine começa um caso com o homem que estava abusando de sua
empregada! Até seu amante tem um momento de redenção, não ela. O homem tem um
momento de redenção, a mulher, não. Alguém poderia argumentar que ela se tornou
isso por causa do ambiente, das pessoas, etc., mas não há profundidade no filme
para que seja esse o caso. E, seja como for, o filme simplesmente perpetua a
infeliz ideia de mulher como algo lascivo e fonte do Mal.
Não
recomendo. A não ser que você seja como eu, teimoso/a, afinal fui ver “A Torre
Negra” apesar de todas as críticas negativas. Porém, vi muitas críticas positivas a "Lady Macbeth", mas as negativas que li praticamente corroboraram a minha impressão. Eu realmente não gostei de "A Torre Negra", mas esse filme foi um verdadeiro insulto. Triste assim.
E vejam no tailer a melhor cena do filme: o gato na cadeira.
Nota
para o filme: Uma lágrima vertida pelo que o filme poderia ter sido.
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