Resenha do livro Ecos, de Pam Muñoz Ryan (Editora Darkside)
Resenha por Dhuane Monteiro
“Seu destino ainda não está selado
Até na mais sombria noite
Uma estrala brilhará, um sino soará
Um caminho será revelado.”
"Ecos" é um conto de fadas. Um conto que aperta seu
coração do começo ao fim. Começamos com ele falando sobre três irmãs abandonadas
pelo seu pai, o rei, na floresta, para morrer. As três receberam a benção da
parteira ao serem deixadas com uma bruxa, pois ela não conseguia deixá-las para
morrer. Vivendo uma vida triste com a bruxa, quando as irmãs iam conseguir sair
da floresta e ser felizes, foram amaldiçoadas para ficarem dentro de uma gaita e
só poderiam ser livres se salvassem alguém.
Contada a história das irmãs, mergulhamos nas
histórias daqueles que foram os donos da gaita.
Primeiro nos deparamos com Friedrich, um jovem
prodígio da música que sonha em ser maestro. Tudo seria mais simples na vida do
garoto se ele não vivesse na Alemanha Hitlerista e tivesse uma marca de
nascença gigante na cara, tornando-o um alemão imperfeito de acordo com as leis
da época.
“Elisabeth
inclinou a cabeça. ”Não soa como as outras gaitas.”
Friedrich
concordou. Ela tinha um som quente e etéreo. “Uma pena que seja
inaceitável...como eu.””
No conto vemos as várias coisas que eram proibidas
na Alemanha Hitlerista, desde livros, instrumentos, músicas, e tristemente,
pessoas.
No segundo conto nos deparamos com Mike e Frank,
dois irmãos na América esperando para serem adotados.
Após perderem a mãe para a doença e a avó para a
velhice, ele se encontram em um lar de adoção. Mike, o mais velho, é um ótimo
pianista, e ao ser deixado junto com Frank na instituição, ele promete a sua vó que
vai proteger seu irmão mais novo. Por isso, neste conto, acompanhamos um irmão
mais velho fazendo de tudo para cuidar do mais novo e lutando para que os dois
não se separem.
“Vovó dizia que ser pobre não significa ser pobre de espírito.”
No terceiro conto, acompanhamos Ivy, uma garotinha
que toca gaita brilhantemente e descendente de mexicanos vivendo com a família
na América. Seu irmão vai lutar na Guerra e ela se muda com os pais para
trabalhar em uma propriedade de japoneses que está abandonada porque os donos
estavam presos, devido a desconfianças com o povo japonês após o ataque de
Pearl Harbor.
Na nova casa, ela se depara com o preconceito tanto
contra os mexicanos como contra os japoneses e se vê na tensão de ter um
parente lutando na guerra.
“Fernando
pôs o braço em volta dela. “Não importa, quero que saiba que ainda estou
cuidando de você e mantendo-a aquecida e protegida, mesmo de longe.”
E o último conto? Este, só com você lendo, já que
falar qualquer coisa dele estragaria o livro e seria um baita spoiler!
O livro é maravilhoso. Cada conto nos faz refletir
e ficar revoltado com as ações das pessoas. Cada conto faz você ficar com o
coração apertado e mesmo assim resignado com cada final, independente de como
eles acabam.
Você quer abraçar os personagens principais de cada
conto. Eles sofrem, mas são decididos, eles batalham pelo que consideram certo, e isso é brilhante, porque eles são crianças, só que com tanta personalidade
que deixa personagens adultas de outros livros no chinelo.
Faz tempo que um livro não me fazia me apaixonar pelas
personagens, mas Pam Muñoz Ryan escreve com tanta maestria e fluidez que é
impossível não se apegar a ninguém.
A história é linda do começo ao fim. Não é parada e
é viciante. E mesmo sendo contos, é uma história linear, nas quais acompanhamos a
gaita com as três irmãs.
“Papai se levantou e estendeu as mãos, suplicando.
“Rudolph, não podemos deixar de lado essas opiniões pelo bem de nossa arte, já
que estamos tocando para nós mesmos em minha sala? Josef é músico, o melhor
violista que conheço. Você é músico... Todos nós temos esse amor em comum. ””
A quote acima foi retirada do primeiro conto e
realmente nos faz refletir. Como podemos deixar as pequenas diferenças entre
nós nos separar e causar ódio quando podemos ter um mesmo amor e ficarmos na
mesma sala praticando o que amamos?
O livro é belíssimo, ao fechá-lo já sabia que
ficaria na minha lista de preferidos. A Editora Darkside, como sempre, fez uma
edição maravilhosa com capa dura e completamente delicada.
Como dica, para quem se interessou a ler, eu
falaria para antes de começar a ler o último conto colocar para tocar a música
de destaque do conto (já que cada um abre com uma música diferente) “Numa Noite
Encantada”, cujo titulo original é “Some Enchanted Evening”. Para que assim
vocês possam se emocionar ainda mais.
E, por último, vou deixar aqui outra quote que achei
maravilhosa:
“...Mesmo assim, se o clima permitisse, todo domingo à tarde ela abria a janela da frente e revezava-se com Mike ao piano, tocando para a vizinhança toda. Bhrams, Chopin, Mozart, Debussi. Ela dizia que as pessoas em dificuldades mereciam ter beleza em suas vidas, não importam se não podiam pagar o aluguel ou se estavam indo para a fila do pão.”
E por achar que as pessoas merecem beleza na vida,
eu com certeza indico a leitura de Ecos.
Nota: 5 ♬♭♩
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