Criaturas Estranhas, histórias selecionadas por Neil Gaiman (Editora Fantástica Rocco)
“Onde há um monstro”, disse o sábio
poeta americano Ogden Nash, “há um milagre.”
Um
Grifo. Um Lobisomem. Um Pássaro do Sol... E um autor dos meus sonhos escolhendo
contos que o encantaram durante a vida e juntando-os em um livro.
Criaturas
Estranhas é um livro incomum. Abrimos sua capa e navegamos pelas suas páginas
como os personagens do conto Prismática, em que o príncipe da Terra do
Arco-Íris se junta a um personagem principal bem esperto e enfrenta o Homem Cinza para
salvar uma princesa.
Quando a nova rainha saiu de seu cômodo,
eles se juntaram aos outros zangões no vôo de núpcias, onde passaram
despercebidos. Dois se acasalaram com ela. Os que falharam e sobreviveram
contaram depois, em uma voz sussurrante, o que havia sido feito em nome da
ideologia. Antes de morrerem, pegaram própolis e tinta de bugalhos e escreveram
nas pilastras da colméia, em uma caligrafia que tinham desenvolvido, a história
da primeira anarquista e de seus vinte filhos.
Saboreamos
os contos do livro como em o Pássaro do Sol, em que o pessoal devota a vida a
provar tudo que existe na terra e se aventuram a tentar provar um pedacinho da
Fênix.
Descobrimos
que só porque alguma coisa é julgada ruim não significa que necessariamente ela
será, como em O Lobisomem Cabal e que podemos não acreditar mesmo naquilo do
qual já presenciamos como o Sábio de Theare.
Criaturas
Estranhas pode apresentar uma gama imensa de feras, bestas e monstros, mas nos
apresenta também uma coisa bem mais assustadora, o ser humano.
Neil
Gaiman, autor de Sandman e do mais recente sucesso (em livro e adaptado em série original da Amazon Video), Deuses Americanos, é o
selecionador dos contos registrados. Ele até nos agracia com um conto de sua
própria autoria, Pássaro de Sol.
“Nunca, Lorde e Lady Torrance, pois
vocês dois se preocupam demasiadamente com outra pessoa para terem orgulho de
ser a Morte”
Uma
grande surpresa também é encontrar no livro um conto de Diana Wynne Jones,
autora do livro O Castelo Animado (se tiverem interesse indico que assistam à animação de mesmo nome produzida pelo Studio Ghibli, e depois leiam o livro que
é simplesmente maravilhoso). Aqui, dela, lemos O Sábio de Theare, que começa de
uma maneira leve, mas que no final passa uma lição maravilhosa.
-Clarissa, se algum dia acontecer
algo ruim com você e ninguém acreditar na sua versão da história, pode me
procurar- disse Gilla.- Porque sei bem como é isso.
E
não são apenas esses dois autores os responsáveis pela magia do livro. Cada
conto é encantador, tenso, emocionante e interessante da sua maneira. Às vezes sendo contados de forma descontraída, horas de forma séria, em outros momentos, de forma
sensível.
Temos
contos para crianças, adolescentes e adultos em uma mesma edição, mas isso não
o torna impróprio e sim próprio de um jeito único para todas as idades. Pois ao lermos este livro, podemos entendê-lo de forma diferente a cada fase da vida
-Como poderei pregar a Dissolução?-
questionou ele.- Como posso não acreditar nos deuses se os vi com meus próprios
olhos?
E
como em O Mal Também se Levanta, onde uma cidade tem sua fera e seus segredos,
o livro tem seus segredos que vamos desvendando aos poucos e acabamos como
Gilla de um Sorriso no Rosto, com várias palavras novas, também experiências,
que não vão ficar apenas conosco e vão sair pelos nossos lábios.
Com
participação de um Grifo narcisista, um lobisomem bonzinho, abelhas
anarquistas, uma bicicleta malvada e uma morte gentil, além de outras várias
criaturas, o livro vale totalmente a pena e percebemos que não é apenas
escrevendo que Neil Gaiman é ótimo, mas também em escolher contos para encantar
diversos leitores.
Nota: 3 criaturas estranhas e meia nem tão estranha assim.
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