Hilda Hilst Pede Contato: um filme sensorial
Uma
mistura de documentário biográfico e ficção, o filme utiliza a voz da própria
Hilda Hilst em gravações feitas por ela entre 1974 e 1979 em uma experiência em
que tentava se comunicar com os mortos. A atriz Luciana Domschke interpreta a
falecida escritora.
O
cenário não poderia ser outro: a Casa do Sol, chácara localizada em Campinas, que foi residência da poeta por 40 anos e que atualmente é a sede do Instituto
Hilda Hilst. Foi lá que a diretora Gabriela Greeb, em uma visita realizada em
2008, encontrou caixas com fitas que totalizavam mais de 100 horas de
tentativas da escritora de contatar o além.
Mais
do que excentricidade, o intuito de Hilda com suas sessões era documentar sua
interação com amigos e escritores que ela não conhecia pessoalmente, mas que
admirava, evidenciando a infinitude da vida após a morte – tema constante em
sua obra. E, para isso, ela se baseava em um método científico, em experimentos
feitos no exterior. Ao que parece, seu interesse pelo assunto começou quando
ela leu “Telefone para o além”, do autor sueco Friedrich Jungerson, que dizia
ser possível registrar vozes de espíritos, ou “povo cósmico”, segundo Hilda,
com um gravador.
No
filme, o ruído branco se mistura ao ruído da estrada. A voz de Hilda no
gravador se integra ao som do vento fazendo vibrar a fita magnética esticada
por entre as árvores. A escritora fala com seus colegas que estão em outro
plano, mas isso já é passado – no momento, são os amigos dela, ainda vivos e
confraternizando em um jantar na Casa do Sol, que falam de uma Hilda falecida,
que relembram causos de sua vida, que revivem seus poemas, que mantêm viva sua
memória.
Presente
e passado, material e imaterial, homem e natureza se fundem e se confundem numa
existência que aceita o que não pode ser explicado racionalmente e que celebra
essa característica. "Hilda Hilst pede contato” é uma experiência
sensorial. Não é preciso ser grande conhecedor da obra da escritora. Basta
manter olhos e ouvidos abertos e estar disposto a embarcar na proposta de
apresentação sensível e não tradicional de um período da vida da biografada.
A
biografia foi um pedido de Mora Fuentes, escritor e amigo de longa data de
Hilda. O abundante material de pesquisa utilizado por Gabriela Greeb rendeu
também um livro, que será lançado pela Sesi Editora na Flip e trará a
transcrição das fitas, o storyboard, informações de como foi o processo de
elaboração do filme e material de bastidores. O filme, aliás, também fará sua
grande estreia na Festa Literária Internacional de Paraty deste ano, que tem
Hilda Hilst como homenageada.
Nota:
4 rolos de fita
Estreia:
02 de agosto
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