O Orgulho: o fim justifica os meios?
Neïla
Salah é uma jovem que cresceu numa região periférica e que ingressa na
prestigiada universidade parisiense de Assas para estudar Direito. Já na
primeira aula ela é humilhada por um professor conhecido por seu comportamento
ofensivo. Embora a própria Neïla não tenha tomado nenhuma atitude contra o
professor, vídeos feitos por seus colegas de classe ganham repercussão na
faculdade e chegam até o reitor, que, preocupado com a imagem da instituição,
impõe uma ação disciplinar ao mestre: ele deverá preparar a caloura para o
concurso de eloquência. Será que isso vai dar certo?
A
moça chegou atrasada. Uma situação chata, mas acontece. Ele a repreende. Ela
pede desculpas. E pronto. Poderia ter parado por aí. Mas infelizmente não para.
Na verdade, o atraso parece ser o que menos incomodou o professor. O ataque que
ele faz a Neïla é cruel e gratuito: ele faz comentários cheios de preconceito
de classe, de etnia, de gênero. Considerando que ele já tinha um histórico de
insultos do tipo, ele merecia mais que uma ação disciplinar. Mas OK. O filme é
uma comédia e, supostamente, deveria criar situações que satirizassem o
comportamento ultrajante dele e que lhe ensinassem uma lição. Não é o que
acontece.
Há,
sim, momentos divertidos, que nascem do choque de mundos tão diferentes. Os
métodos que o professor usa para treinar a pupila para os debates são um tanto
inusitados e arrancam risos pelas situações absurdas em que colocam os
protagonistas. No entanto, o problema é que as provocações lançadas por ambos
os lados não são da mesma natureza: as dela são impessoais e genéricas,
enquanto as dele miram a garota diretamente. Embora no final Neïla tenha
livrado a cara do mestre na audiência que avaliava o resultado da ação
disciplinar contra ele porque acreditava que um havia usado o outro e que então
eles estavam quites, isso não é bem verdade.
Colocar
um personagem privilegiado em todos os sentidos (homem, branco, em condição
social melhor do que a da aluna e em posição hierárquica superior à dela)
lançando os maiores impropérios aos alunos e considerar que ele faça isso apenas
para provocá-los e estimulá-los a reagir e a não se deixarem vencer pelas
dificuldades da vida é muito desonesto e perigoso. É como aquele discurso de
meritocracia: não dá para aplicá-lo a pessoas com origens e oportunidades tão
diferentes, com problemas cotidianos tão distintos. Fazer isso é ignorar todas
as ofensas por parte dele, deixá-lo no cantinho do castigo por um tempo e
depois permitir que ele volte a ser escroto com todo mundo. É como dizer “Ah,
ele é um excelente professor, então devemos relevar suas excentricidades”.
Camélia
Jordana (Neïla) e Daniel Auteuil (professor) arrasam como personagens
principais. A trama secundária (Neïla e seu envolvimento amoroso com um amigo
de infância) também me agradou, assim como a ótima cena em que a moça janta em
casa com sua mãe e sua avó (uma daquelas típicas refeições em que as farpas
voam para todo lado, mas tudo com amor... hahaha). Eu estava realmente adorando
o filme. Pena que a mensagem final tenha sido tão equivocada e assustadora.
Nota:
três canetas (para treinar a dicção)
Estreia:
19 de julho
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