A garota na névoa, um thriller com reviravoltas e um quê de cinema noir, um filme de Donato Carrisi
A garota na névoa é o primeiro filme de Donato Carrisi, que também é autor do livro
em que o filme foi baseado. A história se passa em uma pequena aldeia nas montanhas dos Alpes
italianos (vilarejo fictício de Avechot), onde ocorreu o desaparecimento de uma
moça de 16 anos, Anna Lou (Ekaterina
Buscemi), jovem de família religiosa, inocente, pode-se
dizer que quase vivia em uma “bolha”; por conta de sua criação não tinha acesso
às mídias sociais e seu círculo social basicamente se compunha de sua família e
do grupo da igreja. A história é atual, mas por conta da maneira como a família
e a comunidade vivem, parece que pararam no tempo, o estilo das casas, a
decoração, os móveis, tudo é muito antigo. Talvez a ideia seja dizer que a comunidade
vive dentro de si mesma e do seu próprio tempo. É um vilarejo onde todos se
conhecem.
O detetive Vogel (Tony Servillo) é
chamado para investigar o
desaparecimento de Anna Lou (Ekaterina
Buscemi), que parece ter
evaporado enquanto ia a um encontro de grupo de jovens da igreja. Quando ele chega
no local, percebe que o caso é bem mais complicado do que imaginou. O
personagem do detetive Vogel
(Tony Servillo) é um tanto quanto
enigmático, e lança mão de métodos não convencionais em suas investigações. Encontrado na estrada, após sofrer
um acidente, o detetive Vogel (Tony Servillo) é apresentado no
hospital, recontando sua história ao psiquiatra Flores (Jean Reno, de O profissional), através
de
flashbacks: então são narrados os
eventos a respeito do desaparecimento da garota
Anna Lou (Ekaterina Buscemi). Vogel (Tony
Servillo) carrega um peso de um caso do passado, no qual teria forjado
provas e manipulado a mídia para incriminar um suspeito, que tempo depois seria
declarado inocente.
A principal suspeita se volta para o
professor de literatura Loris Martini (Alessio
Boni), da escola de Anna Lou (Ekaterina
Buscemi), que acaba de se mudar
para Avechot, e realmente tem alguns comportamentos estranhos e
comprometedores. Os personagens têm um lado bom e um não tão bom.
[ALERTA DE SPOILER:
vá direto para o último parágrafo se não quiser ler nenhum detalhe importante
da história].
Vogel (Tony Servillo), apesar de determinado a descobrir o que aconteceu com a garota Anna Lou (Ekaterina Buscemi) e fazer valer a justiça, é capaz de tudo
para encontrar o culpado, mesmo que tenha que passar por cima das leis.
O professor Loris
Martini (Alessio Boni), apesar de
ser um homem de família e um profissional competente, não recusa completamente
os avanços de uma de suas alunas, menor de idade.
O psiquiatra Flores (Jean Reno) julga as ações do detetive, mas não vê
problemas em pescar e matar peixes, só por diversão. Detalhe que ele sempre
pesca somente a mesma espécie de peixe:
Truta arco-íris, e, curiosamente, a cor desta espécie quando aberta é
avermelhada,
fazendo uma alusão à cor dos cabelos ruivos das moças desaparecidas.
A garota Anna
Lou (Ekaterina Buscemi0, como
a maioria dos adolescentes, se comporta de um jeito na frente dos pais e de um
jeito diferente na frente dos amigos.
A trilha
sonora “Dança da solidão”, na interpretação da cantora Beth Carvalho é tocada em alguns pontos-chaves do filme. A escolha desta
canção, composta por Paulinho da Viola,
parece estranha, ainda mais por ser tocada em algumas cenas de violência, mas
traduz a tristeza profunda e a melancolia que os personagens apresentam.
[FIM DO SPOILER].
O filme tem muitos mistérios e
reviravoltas interessantes, com uma trama muito bem-feita. Assim como nos clássicos filmes noir, A garota na névoa contém muitos elementos técnicos, visuais e até
mesmo na trama e nos personagens desses filmes que marcaram uma época. Pode-se
dizer que são “ticados” quase todos os elementos que caracterizam esse estilo
de fazer cinema. Temos um investigador, um criminoso, uma mulher “má” e bela,
uma mulher boa, porém insípida, a trama é complexa, a história é contada em
flashbacks, pois o passado influencia e muito no presente, temos a imagem da
humanidade com algo podre e corrupto, e isso não descarta nem mesmo os supostos
“homens de bem” aos quais somos apresentados.
O final é lúgubre, sombrio,
desolador, mesmo que aparentemente justiça tenha sido feita… Temos diálogos
rápidos saindo como rajadas de fogo de uma arma, e por vezes poéticos. Nas
fotos acima, vemos a arte com o detetive tanto de frente quanto de costas,
centralizado, em meio à fumaça (ou “névoa”). Elementos do cinema noir clássico presentes nesse thriller
que foi um dos melhores de 2018, e que, se você não viu ainda, mas é amante de
thrillers com reviravoltas, elementos de cinema clássico e umas boas pitadas de
atualidade, inclusive lidando com o recorrente tema das fake news, também
presente no filme O beijo no asfalto,
do qual o Bruno falou aqui, adaptação recente da peça homônima de Nelson
Rodrigues, e na influência que as mídias têm e sempre tiveram nas vidas das
pessoas, para o bem ou para o mal, para descobrir a verdade, ou para propagar
mentiras.
Nota: 4 de 5 Trutas arco-íris
Texto por: Adriana Stoll Monaco (com colaboração de Ana Death Duarte)
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