Koe no Katachi (A voz do silêncio) e a catarse por meio de uma avalanche de sensações
Há um tempo estava rolando o feed do Facebook
aleatoriamente quando vi um vídeo patrocinado da animação “Koe no Katachi”
(traduzido para o inglês como "A silent voice"- "Uma voz silenciosa", e traduzido diretamente do japonês como "A forma da voz"). Logo
de cara achei um nome interessante, pois o título traz a metáfora da voz para
falar sobre uma estudante que sofre bullying por ser muda. Fui procurar a
animação online e fiquei chocada com a carga de informação comportamental e os
sentimentos que recebi.
O filme conta a história de Ishida e Shoko. Nishimiya Shoko é uma
garota transferida para a escola de Ishida Shouya. Ela é bonita, mas há um
pequeno detalhe: ela é muda. Shoko se esforça para se adaptar e é aceita pelos
colegas, que a ajudam nas aulas e nos trabalhos de casa. É um bom início, mas,
com o tempo, podemos ver como a inclusão de alguém com necessidades especiais
pode ser problemática em uma turma regular.
Shoko começa a atrapalhar os alunos porque não entende bem as
informações e estes começam a se irritar com ela, o que desencadeia o bullying.
Começa com pequenos comentários como “o cabelo dela é feio”, “que voz horrível
ela tem quando tenta falar”, até o ponto em que Ishida a agride fisicamente e
começa a fazer disso seu hobby diário. Ele joga água na colega, a chuta,
destrói diversos aparelhos auditivos até finalmente cortar a orelha da colega
em uma de suas gracinhas. Sua mãe precisa pedir desculpas para a mãe de Shoko e
pagar pelo aparelho e, depois disso, Ishida começa a ser isolado pelos colegas
que não queriam participar do bullying junto dele. Ishida começa a passar por
tudo o que Shoko passava e esta finalmente muda de escola, acreditando deixar
tudo para trás e encontrar um novo começo.
Ishida desenvolve um tipo de fobia social e ansiedade. Ele não
consegue encarar multidões ou olhar nos rostos de seus colegas e cresce
sentindo remorso pelo que fez. A animação começa com ele concluindo diversas
tarefas, como aprender língua de sinais, trabalhar para pagar a sua mãe pelos
aparelhos auditivos e tudo com apenas uma finalidade: suicidar-se sem deixar
nada inacabado.
Porém, Ishida não tem coragem de levar isso adiante e apenas volta
a ser um estudante comum, até que, por acaso, encontra Shoko em outra escola e
a persegue para que ela lhe dê mais uma chance de amizade. Com um pouco de medo
no começo, mas sentindo compaixão pelo amigo, Shoko aceita e ela e Ishida se
tornam inseparáveis.
O anime parece correr bem, Ishida consegue se redimir e Shoko se
apaixona por ele, mas feridas antigas nem sempre cicatrizam e, por trás de todo
otimismo e de toda bondade, Shoko ainda está desesperada com sua situação, com
o trabalho que os amigos e a família têm por causa dela e, em suas próprias
palavras, ela se odeia. É por isso que, após ver os fogos de artifício com
Ishida, ela corre para seu apartamento e tenta pular da janela. Seu plano só
não dá certo porque Ishida a segura, mas acaba caindo em seu lugar e ficando em
coma.
Com certeza as cenas da tentativa de suicídio e de Shoko indo ao
hospital para se desculpar com a mãe de Ishida são as mais pesadas de todo o
filme. É muito difícil assistí-lo até o final sem chorar!
Koe no katachi fala de várias situações cotidianas às quais não
prestamos atenção: aquele colega estranho e aparentemente antipático que na
verdade tem depressão e ansiedade, aquela amiga que vive animada e sorrindo,
mas que na verdade se odeia, se corta e pensa em se matar todos os dias, aquela
pessoa que que o trata mal, mas que na verdade gostaria de ter uma chance de se
aproximar de você e não sabe o que fazer.
O bullying é engraçado enquanto não pensamos no alvo como um ser
humano, “quem nunca sofreu bullying?” e “bullying molda caráter” são algumas
das frases ditas por vítimas e por praticantes de bullying e, infelizmente,
ambas estão certas. Bullying molda personalidade, molda medos, cria falta de
expectativa e fé em si mesmo. E o modo como Ishida passa a se comportar depois
de sentir o que Shoko sentiu mostra o isolamento típico de quem não pode mais
confiar em ninguém.
Essa é minha recomendação! Você vai chorar? Sim. Vai ficar com
raiva de Ishida? Sim. Vai se identificar com algum personagem? Com certeza. Mas
eu posso lhe assegurar que você vai ver as pessoas com outros olhos depois
dessa carga sentimental transmitida por Koe no Katachi.
Com certeza 10 estrelas para Ishida e Shoko, que conseguiram
transformar seus piores sentimentos em amor, perdão e amizade.
Texto Por: Catherine Meira. --- Meu nome é Catherine, tenho 26 anos e escrevo desde os 15. Dei
aulas de inglês por 10 anos e já escrevi sinopses, traduções e revisões para
diversos livros, como a série “Minecraft” de Winter Morgan. Atualmente escrevo
para o Bagulhos Sinistros e traduzo livros e jogos como Freelancer. Amo jogar
diferentes RPGs e MOBAs e estou sempre procurando novas leituras.
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