Torre das Donzelas, um documentário sobre a ditadura, mulheres e uma torre
A
ditadura militar brasileira, não aconteceu há tanto tempo. Acabou em 1985, com
mortes sem explicações, escândalos, censura, tortura e presos políticos. Mas é
claro que no imaginário de muita gente, só homens foram presos e torturados por
suas ideias e lutas políticas. Mas um presídio nomeado Tiradentes, em São
Paulo, e apelidado “Torre das Donzelas”, carregou uma história diferente.
O documentário, Torre das Donzelas, dirigido por Susana
Lira, traz os relatos de diversas mulheres que foram submetidas ao cárcere e
uma série de torturas. Elas acreditaram e lutarem por um governo diferente
daquele que os militares submeteram o Brasil durante 21 longos anos. Eram
professoras, jornalistas, historiadoras, advogadas, entre muitas outras, que
participavam de grupos políticos e foram obrigadas a se isolarem e perderem sua
liberdade.
Algumas delas foram reunidas para lembrar e conversar sobre o que passaram, entre elas a ex-presidente Dilma Rousseff. E, no que poderia ser apenas lembranças de dor e sofrimento, elas também recordaram momentos de irmandade e acolhimento que tinham com suas colegas. Entre leituras e trabalhos manuais, elas formaram uma ligação de intimidade e confiança que foram essenciais no tempo em que passaram na torre.
“Não estamos alegres, é certo, mas
também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar de história é agitado,
as ameaças e as guerras havemos de atravessa-las, rompê-las ao meio, cortando-a
como uma quilha corta as ondas, Mayakovsky”, uma das mulheres leu
essa frase de um livro, que me passou ser o que elas sentiram.
A montagem do documentário é dinâmica.
Traz relatos, conversas e até desenhos de como elas se lembram da torre, que foi
demolida em 1972. A produção também reconstruiu as celas e montou pequenas
cenas para ilustrar algumas situações que passaram. Não é cansativo, e na
verdade fiquei com vontade de saber mais. Sou um pouco suspeita porque sempre
adorei ler e pesquisar sobre esse período obscuro de nossa história. E esse
documentário ser contado na visão dessas mulheres foi no
mínimo inspirador. Elas não foram, nem são, donzelas indefesas esperando
por um príncipe encantado vir resgatá-las. Elas resistiram, lutaram pela liberdade
e formaram um grupo que se acolheu e se ajudou.
“A torre é uma experiencia política
também. É de como, inclusive, mesmo de fora da sociedade, mesmo distante, mesmo
numa situação de extrema repressão, você pode construir. Porque de fato nós
criamos um ambiente em que eles não interferiam, eles não mandavam mais em nós. Várias
coisas eu aprendi na torre. Eu aprendi que, mesmo quando a gente é frágil,
é possível resistir. Fomos capazes de fazer isso, sem culpa. Porque uma coisa
inicial que a gente percebia. Eles achavam que a gente precisava se vestir de
monja dentro daquela cadeia e botar cinza na cabeça, como se a culpa de estar
lá fosse nossa. Nós fugimos disso, fugimos de uma visão penitente da cadeia.
Soubemos fazer isso”, diz Dilma sobre seu tempo na Torre.
O longa foi vencedor dos prêmios de
Melhor Direção de Documentário e Melhor Documentário, no Festival do Rio,
Melhor Filme na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do Prêmio
Especial do Júri no Festival de Brasília. Além dos internacionais:
Melhor Documentário do Atlantidoc e Menção Honrosa no Santiago Del
Estero Film Fest.
Trailer:
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