O Farol (The Lighthouse), novo terror psicológico do diretor de A Bruxa, em 2 de janeiro de 2020 nos cinemas

O gênero do terror está cada vez mais fugindo da fórmula convencional e, mesmo sendo a minoria, o terror psicológico tem ganhado prestígio entre os fãs do gênero, mesmo que ainda boa parte do público não classifique isso como terror, por não ter gore explicito, um maníaco com uma serra elétrica, ou que não assusta provocando medo no espectador, o que não é verdade, já que o terror não se resume a sustos baratos sedentos de sangue, mas também pode provocar desconforto, aflição, intensidade, e até nojo, e O Farol se encaixa perfeitamente nessa descrição.

Neste filme, em que o diretor Robert Eggers, diferente de seu filme anterior, A Bruxa, cria um ritmo mais lento, quase monótono, mas que não chega a cair nessa zona entediante, em vez disso, esse ritmo parado consegue ser inquietante devido à forma como o diretor apresenta os elementos que ajudam a criar a tensão do ambiente, através do comportamento dos personagens em um lugar isolado da civilização, da interação entre os dois protagonistas, e dos mistérios surreais que causam estranhamento no público a ponto de se sentir uma leve perturbação, mas que também se mantém na poltrona, com curiosidade sobre o que é mostrado.

A fotografia do filme é muito bem planejada, além de filmar
em preto e branco, o diretor opta por mostrar o filme numa imagem 4:3, para dar
a sensação de que estamos vendo um filme antigo, e mesmo sem coloração, o
diretor consegue utilizar uma palheta bem variável de preto e branco, sabendo
bem deixar a imagem mais escura ou mais clara, conferindo assim profundidade e textura ao cenário, que junto com o ritmo lento, lembra muito os filmes de Béla Tarr,
misturado com o estilo de terror de Edgar Allan Poe.

Mesmo com o roteiro criando uma história misteriosa que aos
poucos ganha mais intensidade e causa desconfiança entre os personagens, os diálogos são
meio fracos e não muito criativos, muitas vezes sendo bem poéticos e metafóricos
de forma desnecessária em momentos mais agitados,. O que acaba segurando os diálogos são as atuações, mostrando os atores se empenhando bem ao dizerem cada palavra
que ajuda a disfarçar essa falha. Muitas das cenas de loucura intensa são misturadas
com uma pegada mais sobrenatural, levando o público a se questionar o
que é real ou alucinação, e o terceiro ato só reforça mais essa dúvida, quando
o roteiro coloca isso dentro do filme, deixando o espectador mais confuso e
desorientado em relação ao real propósito da cena, o que faz o espectador não saber o
que esperar para o desfecho dessa história.
A montagem utiliza cortes rápidos com imagens surreais, com um
toque de erotismo, e que se conectam com os atos que os personagens estão cometendo,
que ajudam a realçar a loucura deles nessas situações, além de causar nojo e
repulsa.

Willem Dafoe interpreta um velho homem do mar supersticioso
com alguns princípios, mas que também se mostra um homem instável e imprevisível,
com uma grande obsessão com o farol do qual ele toma conta, o que faz seu aprendiz
e o espectador nunca desconfiarem de seus próximos atos e de seus objetivos.

Mesmo com a ótima atuação de Dafoe, o grande destaque do filme é
a atuação de Robert Pattinson, cujo personagem é muito bem desenvolvido,
construindo leves camadas em cima de seus personagens, mostrando-o como um
homem eficiente e competente que quer se focar inteiramente em seu cargo de
aprendiz de faroleiro, mas que sempre é abusado verbalmente por seu superior,
mostrando o personagem sempre mantendo a compostura, mas que também deixa claras
em seu olhar a raiva e a possível tendência a se entregar à insanidade, o que
acaba piorando devido aos acontecimentos sobrenaturais que começam a perturbá-lo.
Mesmo sendo bem diferente de A Bruxa, Robert Eggers consegue
fazer permanecer a sua essência de seu estilo em O Farol, mas que também vai provocar
muitas opiniões distintas e controversas entre o público que espera ver um filme
de terror que vai fazê-los sair apavorados depois de vê-lo.
NOTA: 8 gaivotas sobre o farol e meia.
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