Frankenstein: uma mulher não poderia ter escrito isso!
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Elle Fanning interpreta Mary Shelley no longa da Netflix |
Mary Wollstonecraft
Godwin, filha do filósofo William Godwin e da escritora feminista Mary
Wollstonecraft, pode ser um nome pouco familiar para muitos, mas, com certeza,
sua principal obra Frankenstein: ou o
prometeu moderno não o é.
Mary foi educada para
o liberalismo, assim como sua mãe, seu pai a encorajava a ter suas próprias
ideias e seguir o que achava certo e não o que lhe traria um marido. Sempre
gostou de ler e escrever, o que fez com que criasse interesses em comum com um
dos seguidores políticos do pai, Percy Bysshe Shelley, um homem preso em um
casamento infeliz.
Indo contra toda a
moral da época e contra seu próprio pai, Mary deixa para trás sua família para
viver esse amor com Percy, partindo para a França e levando sua meia-irmã,
Claire Clairmont. Apesar de acreditar no amor livre e recebendo incentivo do
marido para tomar como amante um amigo em comum, não há registros das aventuras
românticas de Mary,:ela amava apenas Percy.
Apesar de entrar em
depressão profunda pela morte prematura da filha, Mary consegue engravidar novamente
e dá à luz um menino. Claire também estava grávida, devido a seu caso recente
com Lord Byron, que convida a família a passar o verão com ele em Genebra. É na
companhia desses amigos e tendo o marido como base melancólica que Mary Shelley
começa a história de Frankenstein, que traria seu nome à luz até os dias de
hoje.
Mesmo com a influência
de sua família, Mary tem problemas para publicar essa história e muitos
acreditam que o verdadeiro escritor foi seu marido. Obviamente, o filme
dramatiza a parte da publicação e aumenta um pouco o ocorrido, mas não sem um
toque de veracidade.
O livro conta a história
de uma criatura fruto do trabalho de um homem que desejava brincar de Deus,
Viktor Frankenstein. A partir de um processo que ele não revela, com medo de
que tentem recriar seu erro, ele cria um monstro horrível e desfigurado, do
qual se arrepende e tenta se livrar imediatamente. Porém, não há maldade na
criatura. Ela é vazia de ideias e, apesar de sua aparência, doce por natureza. No entanto,
a vida na qual foi jogado, cheia de preconceitos, medos, dor e ódio o
transformaram em um ser sedento por vingança. A criatura, então, procura Dr.
Frankenstein e pede que lhe crie uma parceira, alguém que acabará com sua
solidão e o permitirá viver em paz, finalmente. Por medo, o Dr. aceita e começa
a trabalhar no projeto, mas logo desiste, alegando não poder cometer duas vezes
o mesmo erro e perseguindo implacavelmente sua cria, a fim de acabar com a dor
de ambos. O doutor acaba morrendo por causa da busca, e a criatura, que agora não tinha
mais motivos para continuar, parte para jamais ser vista novamente.
Frankenstein conta uma
história de dor e nos faz pensar em nossa própria natureza, em como nossas experiências
nos moldam e que até a criatura mais pura pode ser corrompida pela falta de
amor e justiça. Apesar de sua aparência, a criatura nunca foi o verdadeiro
monstro da história, mas sim o pai, que o deixou sozinho no mundo por medo do que
criou. Há uma passagem muito interessante no livro, em que a criatura diz “quando
olho no espelho, não vejo meu reflexo, vejo todos os que me fizeram quem sou”. Era
assim que Mary se sentia em meio às traições físicas e psicológicas de Percy, o
suicídio da primeira esposa do marido e seus filhos fora do casamento. Foi a
inspiração necessária para aliviar sua dor com a história que carregava suas experiências
de viver em um mundo que não tratava com gentileza quem estava fora dos padrões.
Mas foi também graças
a isso que Mary Shelley se tornou uma das escritoras mais famosas de todos os
tempos. Usando sua dor, ela criou uma história pela qual teve de lutar para ter
crédito (no filme, Percy precisa dizer publicamente que não foi ele quem
escreveu o livro, e sim Mary) e que refletiriam nossas emoções mais profundas
até os dias de hoje.
O que realmente
definia a capacidade do homem como superior? Alguns ainda acreditam que o
cérebro do homem é maior ou que ele utiliza suas funções com mais precisão, mas
por que é tão assustadora a ideia de que uma mulher possa desenvolver as mesmas
tarefas que um homem?
Autoras como Mary
Shelley mostram a importância do feminismo no decorrer da história. Em uma
busca por igualdade, a mulher era vista como egocêntrica e arrogante. Por mais
que Mary tenha se empenhado em publicar os trabalhos do marido, publicar seu
próprio trabalho era visto como impossível por muitos.
Fico feliz por
vivermos em uma época onde todos são mais ouvidos. Ainda é difícil impor os
direitos de igualdade da mulher, acabar com o assédio nas empresas e na
internet, mas estamos cada dia mais próximas de orgulhar nossas antepassadas e
criar uma geração livre de preconceitos e sentimentos de superioridade. Quem sabe
o futuro não nos trará a utopia que sempre buscamos?
Para quem gosta de
filmes de época e bons livros, recomendo tanto a obra Frankenstein, ou o prometeu moderno, quanto o filme Mary Shelley, disponível na Netflix.
Apesar da história triste da escritora, é inspirador vê-la como a mulher forte
que foi e tenho certeza de que muitas vão se inspirar com ela!
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