Doutor Sono tinha tudo para dar certo, se não fosse tão raso...
"Na infância, Danny Torrance sobreviveu a
uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado pelos
espíritos malignos do Hotel Overlook. Já adulto, traumatizado e alcoólatra.
Danny se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital
local. Sua paz, porém, está com os dias contados a partir de quando cria um
vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles
que ele bloqueia dentro de si."
Dirigido por Stanley Kubrick e lançado em 1980, O Iluminado foi um grande sucesso de bilheteria e imediatamente consagrou Jack Nicholson como um dos grandes clássicos do cinema. Apesar de ignorar o roteiro sugerido por Stephen King, Kubrick conseguiu trazer à tona sentimentos profundos descritos no livro, principalmente ligados à grande melancolia e perturbação de Jack Torrance que, buscando inspiração para seu livro, aceitou o trabalho como caseiro no isolado Hotel Overlook e gradualmente perde a sanidade devido às influências malignas do local.
Após muito sofrimento sobrevivendo ao ocorrido
e sendo atormentado pelos espíritos, Danny acaba preso a vícios e a uma vida
cheia de traumas que não consegue superar. Sua irresponsabilidade traz mortes e
tormento, e ele parece não se importar o suficiente, usando seu dom apenas
quando lhe convém para ganhar dinheiro fazendo truques de mágica. É em um desses
trabalhos que Danny conhece Abra, uma garotinha com poderes extrassensoriais
que acaba sendo a peça-chave da trama.
Após a morte de uma mulher e seu filho (de
certo modo, ocasionada pela negligência de Danny), ele decide mudar sua vida.
Danny se muda para uma pequena cidade, começa a frequentar reuniões do AA e
a trabalhar no hospital local. Convivendo com a morte diariamente, junto de uma
gata que sempre parece saber quando alguém está prestes a partir, Danny
conforta aqueles que não sabem o que esperar do outro lado e, usando sua
iluminação, transmite mensagens de paz. Assim, Danny deixa de ser a ovelha
negra para se tornar o Doutor Sono.
O que Danny não sabia é que a pessoa com quem trocou mensagens pela parede de seu quarto durante anos era uma iluminada ainda mais poderosa que ele. Graças a seu poder, Abra descobre uma seita que vem matando iluminados há séculos para se alimentar de seus poderes. Ela e Danny são os únicos capazes de salvar as crianças iluminadas de um destino pior do que a morte...
Doutor Sono é um filme que eu quis ver desde o
lançamento e acabei demorando um pouco. Eu não li o livro e não sabia muito
sobre a história, mas devo dizer que foi uma grande decepção perceber, durante
o próprio filme, que se tratava da continuação de O iluminado.
Cenas clichês trazidas por trás de um personagem raso tanto em O
iluminado quanto em Doutor Sono, Danny foi extremamente mal
interpretado em ambos os filmes. Apesar de o foco ser em sua descida traumática
ao fundo do poço depois de tudo o que passou no Hotel Overlook, Ainda não há
muita emoção na forma como Danny vive sua história e na perspectiva de mudança que
encontra. O sentimento de culpa pela morte da garota com quem saiu e seu bebê é
muito mal retratado, parecendo um evento usado apenas para preencher o que
seria uma lacuna do filme.
Além disso, é estranho ver como Abra é apenas
uma garota extremamente forte, que aprende a usar seus poderes sem grandes
dificuldades e, com isso, enfrenta uma comunidade de pessoas centenas de anos
mais fortes e experientes que ela. O avô, retratado na seita como alguém que
estava lá havia séculos e viu impérios sendo construídos também não possui a
imponência exigida por sua posição. Todos os personagens parecem apenas
"estar ali", sem objetivo algum e sem profundidade.
Apesar de um enredo incrível e uma grande
história, o filme se tornou raso e sem emoção. É decepcionante ver mais um
roteiro com uma base tão sólida sendo transformado em um filme de terror clichê
do século XXI. Espero que tenham opiniões diferentes e mais felizes sobre esse
filme que tinha tudo para dar certo, vindo de um escritor tão talentoso como
Stephen King, mas que pecou em todos os aspectos possíveis.
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