A Vida em Família: a arte como via de mudança
Um
prefeito que ama a literatura e não manja nada de administração. Um criminoso
pé de chinelo que vira poeta. Um ladrão meia-boca que se acha um grande
gângster e que venera o Papa Francisco. Um assalto malsucedido que aproxima
esses três personagens e muda suas vidas completamente.
Os
irmãos Pati (Claudio Giangreco) e Angiolino (Antonio Carluccio) são dois ladrõezinhos
mequetrefes que decidem roubar o posto de combustível. O plano dá errado, Pati acaba
matando o cão de guarda e assumindo a culpa sozinho, para livrar a cara do
parceiro. Na prisão, todas as noites Pati tem pesadelos com o cão morto, e a
forma que encontra para lidar com seu peso na consciência é inusitada: colocando
seus sentimentos nas poesias que cria nas aulas semanais de escrita e literatura
que o prefeito Filippo (Gustava Caputo), um apaixonado pelas artes, ministra no
presídio.
Como
o próprio nome diz, Disperata, é um lugar sem esperança. A cidadezinha do sul
da Itália não recebe recursos do governo, e seu prefeito não tem ânimo para
lutar por melhorias. À população cabe sentar e ver a vida passar, dia após dia,
sempre igual. Nesse cenário monótono e sem perspectivas, alguns se ocupam (as
mulheres que compram mantimentos, trabalham no mercado e em casa), enquanto
outros sentam e esperam por um milagre (homens que passam o dia no bar bebendo, jogando e contando vantagens).
Além
dessa separação clara entre personagens de ação e aqueles de imaginação e seus
papéis sociais definidos de acordo com o sexo – tão fáceis de identificar na
sociedade italiana (mas não só) –, o filme também retrata outro elemento clássico
desse universo: a culpa católica. Se foi o acaso, ou mais especificamente o
azar, que uniu Pati, Angiolino e Filippo, sem dúvida foi a culpa que os fez
querer mudar de vida. E a arte foi o canal que viabilizou a mudança.
“A
vida em família” consegue retratar o abandono político, a crise econômica e o desalento de uma cidadezinha com leveza, graças ao seu trio
carismático de personagens principais e às suas aventuras um tanto ingênuas
até. Infelizmente, o filme perde a força na parte final, quando novas ideias
são acrescentadas à trama, mas deixadas sem desenvolvimento. De qualquer modo,
dá para embarcar nos sonhos dos protagonistas e rir das situações estapafúrdias
que eles criam. No final, fica aquele gostinho de filme da "Sessão da
Tarde". Para mim, isso é um elogio.
Nota:
3 versinhos sobre a vida (3/5)
Estreia:
6 de setembro
Comentários
Postar um comentário