Camocim: o "circo" voltou à cidade
Na
pequena cidade de Camocim de São Félix, interior de Pernambuco, a tranquilidade
dá lugar a ânimos exaltados quando chega a época das eleições municipais. A
população se divide entre apoiadores dos azuis ou dos vermelhos e a animosidade
abala amizades e até relações familiares. Em meio a toda essa agitação, a jovem
Mayara se empenha para fazer uma campanha limpa para César, seu amigo e
candidato a vereador.
De
acordo com o diretor Quentin Delaroche, francês que morou em Recife por 10
anos, sua intenção era filmar uma campanha política em alguma cidade pequena, e
Camocim foi escolhida por seu histórico de violência relacionada à política, e
também pelo carisma de Mayara, vista discutindo assuntos políticos com amigos com
naturalidade e seriedade em praça pública. Foi assim que, adotando um estilo de filmagem com
interferência mínima, o diretor decidiu acompanhar a dedicada cabo eleitoral e
seu candidato nas eleições municipais de 2016.
O
filme tem um caráter híbrido, que registra os acontecimentos como um
documentário, mas ao mesmo tempo tem algumas cenas tão bem elaboradas e falas
tão boas que parece ficção. A própria figura de Mayara tem sua vida pessoal
entrelaçada à sua atuação política de tal maneira que muitas vezes não é
possível distinguir seus anseios individuais dos planos para a campanha de César. De qualquer modo, uma coisa é certa: ela acredita 100% no que
defende.
Mayara
é uma personagem apaixonante porque vai contra o que se espera em um cenário
político comandado desde sempre por homens brancos já de certa idade e com
influência na região: é uma mulher negra, jovem e pobre. Diferente de grande parte
da população que já não tem mais esperanças (inclusive muitos jovens), ela tem
objetivos claros e luta para atingi-los. E, ao contrário de muita gente, ela
não tem medo de admitir que não vota em partido, e sim em quem apresenta
propostas concretas alinhadas com suas ideologias. Em tempos de polarização,
com pessoas valorizando mais siglas e cores do que ideias e projetos, Mayara é
ousada.
O
filme também retrata o “circo” armado no período de campanha eleitoral:
desfiles diários com direito a fanfarra, carros de som para cima e para baixo,
candidatos em palanques fazendo promessas genéricas e abraçando eleitores para
provar que são do povo, grupos rivais saindo na mão como membros de torcidas de
futebol. Além disso, outro elemento explorado é o papel das redes sociais na
campanha em si – se por um lado é mais fácil e possível atingir um número maior
de pessoas com a tecnologia do que com panfletos, por outro, fazer o público
ouvir de fato e ter uma discussão produtiva parece ter ficado mais complicado.
“Camocim”
mostra uma situação triste e incômoda por trás da fachada festiva. E uma
heroína em sua batalha solitária contra um monstro colossal e poderoso. Como
seria bom se tudo não passasse de ficção.
Nota:
3 santinhos de campanha
Estreia:
13 de setembro
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