A casa que Jack construiu, um brutal estudo sobre a psicopatia, por Lars Von Trier
Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto
Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no
personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos.
O novo filme dirigido por Lars Von Trier, que causou polêmica
no festival de Cannes, é de fato uma obra forte e violenta, mas não tanto quanto suas
obras passadas. O diretor sabe conduzir o protagonista a cometer tais
atrocidades desumanas, e também mostra a origem desse desejo de Jack através de
flashbacks de sua infância, que são mostrados no filme no momento certo.
A narrativa em off é introduzida e usada para ajudar a
entender mais sobre a mente de Jack e o que o leva a escolher suas vitimas e como
matá-las, mas, às vezes essa narrativa vinda do protagonista acaba sendo um pouco
expositiva, como na cena da chuva no rastro de sangue.
O roteiro faz um ótimo uso de metáforas para compreender o
instinto assassino de Jack, usando uma cena sobre a sombra de uma pessoa
caminhando debaixo de dois postes de luz em uma sequência em animação bem
interessante. O diretor usa a violência com uma ótima dosagem, que gera a maior
parte das cenas fortes, que não são gratuitas, todas elas têm uma função na história, que realçam a personalidade monstruosa de Jack, mesmo que às vezes o diretor passe
dos limites mais de uma vez, há algumas cenas bem dolorosas envolvendo crianças
ou tortura de animais (que lembrou muito a cena da tartaruga de Holocausto
Canibal) que fica difícil o público ver sem se chocar ou sentir desconforto com
o que é mostra na imagem. Alguns diálogos que tem um bom propósito para o
seguimento da trama são bem fúteis e artificiais, mas que mostra a natureza
gananciosa do ser humano.
Lars faz uma comparação peculiar entre assassinatos com uma
arte incompreendida, utilizando imagens de grandes ditadores como Hitler e
Stalin, ou até mesmo cenas de violência de seus próprios filmes que geram polêmicas.
Matt Dillon interpreta Jack como um cara que no inicio é uma
pessoa passivo-agressiva, mas que, durante filme, ele se torna mais violento e estratégico.
Ele coloca bastante personalidade em seu personagem, mostrando seus defeitos e suas compulsões, como o TOC impulsivo que ele tem com o ambiente que tem que estar totalmente
esterilizado e limpo, e o trabalho de câmera que mostra esse lado de Jack
ajuda o público a ficar na pele do personagem.
O trabalho de fotografia deixa o filme visualmente
impactante e desconfortável, através de planos fechados que passam desconfiança
para o público, somos colocados muitas vezes no lugar das prováveis vitimas. O
diretor também usa referências da obra de Dante e de imagens em negativo para
mostrar algo relacionado à maldade que se esconde na luz.
O desfecho muda o estilo do filme por completo para algo totalmente
fora da realidade, mas, devido à narrativa e o caminho que o diretor optou para
o protagonista, o filme não se perde e esse novo estilo se encaixou por
completo para o final de Jack.
Não é o filme mais impactante de Lars Von Trier, mas ele consegue mostrar como a mente de um psicopata funciona.
NOTA: 8 cadáveres e meio escondidos no freezer. (8,5/10)
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