Estás me matando Susana - Uma comédia romântica não tão romântica assim
Eligio
(Gael García Bernal) é um ator de teatro com um único sucesso na
carreira e que atualmente faz papéis secundários e comerciais. Susana (Verónica
Echegui) é uma escritora talentosa em ascensão profissional. Eles são
casados. Mas desde os primeiros minutos do filme já dá para sacar qual é a do
Eligio: passar o rodo geral. Um dia, após mais uma noitada em que se comporta
feito um adolescente, Eligio descobre que a esposa foi embora de casa.
Desesperado, ele vai atrás dela em Iowa, nos Estados Unidos, em busca de uma
reconciliação. Mas será que ele está realmente disposto a mudar?
Começo
dizendo que “comédia romântica” não é, nem de longe, meu gênero favorito de
filme. No entanto, vez ou outra alguma me chama a atenção e dou uma chance. Foi
o caso desta. No quesito “comédia” o filme é bem-sucedido nos momentos em que
critica os preconceitos dos americanos contra qualquer coisa que não seja
originária do seu próprio país – no caso, o fato de Eligio ser mexicano (apesar
de parecer “diferente”, como informa o taxista ao seu passageiro assim que ele
diz de onde era) e vir de uma cultura “exótica”. Já com relação ao “romance”...
bem, temos sérios problemas aí.
Poderíamos
achar romântico um marido mulherengo que passa vários perrengues para chegar na
mulher amada e então, sinceramente arrependido, assume seus erros, pede
desculpas e muda suas atitudes de fato. Mas não é isso que acontece. O que
vemos na tela é um homem machista e violento que não dá mínimas mostras de que
entende que as atitudes dele é que são o problema nem de que está disposto a agir de outro
modo. Depois de muita confusão e baixaria... [ALERTA DE SPOILER: sinto
muito, mas, desta vez, preciso revelar detalhes da trama para justificar meu
desgosto com parte dela - vá direto para o último parágrafo se não quiser ler nenhum detalhe importante da história]
... Eligio acaba voltando para casa sozinho e
parece realmente arrasado por ter perdido a esposa. O tempo passa e ele supera
a perda. Até que Susana reaparece em sua vida e, para mostrar o quanto ele a
ama e como o fato de ela ter ficado com outra pessoa na viagem os deixa quites,
ele a aceita de volta e vivem felizes para sempre.
Só
que eles não estão, de fato, quites, certo? Ele sempre agiu como o macho man
que é incapaz de resistir a um rabo de saia (dando em cima de uma das moças do
grupo na frente da esposa, inclusive), afinal é “instinto”. Ela, independente
de saber ou não dos casos do marido (é impossível dizer com certeza), sempre
tratou a questão de forma privada. Eligio, além de ridicularizar a esposa entre
seus amigos (todos os colegas de trabalho dele sabiam de suas puladas de
cerca), ainda a envergonha no emprego dela ao ir questionar o editor da revista
(ou jornal, não lembro) em que ela é colaboradora, a persegue no exterior e a
humilha entre os outros escritores ao bancar o engraçadinho e se meter em
brigas (mais uma vez ameaçando a carreira de Susana).
Como
se arriscar o emprego/carreira dela não bastasse, Eligio a trata como
propriedade dele (basta notar como ele diz que ela é “minha esposa”),
grita com ela, a arrasta pelo braço... ou seja, o fato de Susana ter dormido
com um cara uma vez (de novo, em particular, sem expor o marido em público) nem
de longe se equipara a todas as humilhações a que Eligio a sujeitou. Ignorar as
trajetórias individuais deles e colocá-los como iguais, como “dois safados que
se merecem” é jogo baixo. [FIM DO SPOILER].
Apesar
dessa mensagem distorcida da trama, o filme tem pontos positivos, tais como a
atuação excelente da dupla de protagonistas, uma edição ligeira e uma trilha
sonora que fica na cabeça: rock em espanhol da melhor qualidade da banda texano-mexicana
independente Piñata Protest e da atriz, compositora e cantora espanhola Bebe.
O filme é uma adaptação do romance ‘Ciudades Desiertas’, de José
Agustín.
Estreia: 18 de outubro
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