Um corvo me contou que... (leia o post para saber) + Entrevista com Kerri Maniscalco - autora da série Rastro de Sangue - da DarkSide Books
Mais uma vez venho interromper nossa programação
normal com uma notícia quentinha, tão quente quanto esse calor infernal que
está fazendo aqui em São Paulo, tão quente quanto meu café, nada ruim como este
calor terrível, muito pelo contrário, e uma deliciosa como o meu café quentinho
(a única bebida quente que tomo no verão), que não é do Starbucks, como na
foto, que na verdade foi tirada pelo nosso tripulante Bruno Roque, e... chega
de enrolação, né?
Um
corvo me contou que o
segundo volume da série lançada pela Darkside Books e traduzida por essa que
vos escreve, Rastro de Sangue, sai ainda esse ano. Ainda sem data definida, e assim que eu
souber, aviso, claro!
Deliciem-se com a entrevista que fiz com
a Kerri entre a tradução dos dois primeiros livros da série enquanto eu
desfruto meu café, que não é do Starbucks, mas está delicioso!
***
ENTREVISTA
COM KERRI MANISCALCO
1. O que a levou a escrever uma versão
alternativa da história de Jack, o Estripador? Quero dizer, especificamente
este em meio a tantos serial killers.
Ótima pergunta! Jack, o Estripador, é o
supremo mistério das histórias de detetives que já fascinaram o mundo. Trata-se
de um caso que já foi examinado de tantos pontos de vista, mas eu não vi
nenhuma versão em que tivesse sido reimaginado através dos olhos e das
habilidades de um médico legista. Mais especificamente, uma estudante de
medicina forense, mais curiosa que medrosa, mais determinada que intimidada e
confortável tanto quando usa roupas de
seda como quando traja aventais sujos de sangue.
Eu queria ver os crimes se desdobrarem de
sua perspectiva, observar enquanto ela lidava com o caso como um espetáculo que
se tornou ao sair nos jornais, e ver como, naquela era, a inocência estava
perdida para todo mundo . A maioria das pessoas nunca havia considerado a ideia
de um “serial killer” e, portanto, não esperavam que os corpos continuassem a
se acumular. Tudo isso, combinado com as restrições colocadas sobre as mulheres,
aumentou a tensão na trama e fez com que a minha musa ficasse selvagemente
solta com as possibilidades.
2. O que você acha da seguinte teoria relacionada a Jack, o Estripador?
Sabe de uma coisa? Originalmente eu brinquei com a
ideia de fazer com que Audrey Rose fosse Jack, o Estripador, logo da primeira
vez em que me sentei e comecei o primeiro rascunho do livro. Essa é uma teoria
interessante, mas eu sempre achei que H.H. Holmes parecia um forte suspeito. O
mistério continua!
3. Pelo que notamos em suas mídias sociais,
entrevistas e, claro, seus livros, parece que você realmente gosta de coisas
góticas na vida real. É verdade? Se for, esse gosto pessoal influenciou a
escolha de temas misteriosos e sangrentos para sua escrita também?
Definitivamente é verdade sim! Tanto meu pai quanto
minha mãe eram quiropráticos, então eu cresci com livros de anatomia e
diagramas e esculturas de ossos/colunas. Eu fazia perguntas a meus pais sobre
cadáveres — parte do treinamento médico deles incluía a realização de autópsias
— e nunca realmente achei que isso fosse mórbido nem estranho. Mas, é, eu
sempre me senti atraída por escritores como Poe, arte surreal e levemente
sombria, e, com frequência, gravitava em direção a livros que me davam
arrepios. Eu costumava adorar ler debaixo das cobertas com uma lanterna quando
era criança, com o coração acelerado enquanto acompanhava os personagens em
aventuras arrepiantes. Definitivamente dou o crédito à minha criação pelo meu
amor à ciência e medicina forense, e creio ser por isso que adoro escrever sobre
esses assuntos.
4. Audrey Rose encaixa-se no conceito da personagem
feminina e forte, certo? Porém, ela tem falhas, como seria de se esperar,
porque ela é humana, e não porque ela é mulher. E ela sofre pelas perdas, e
luto e traumas, e lida com isso; ela não coloca essas perdas milagrosamente de
lado, como infelizmente vemos acontecer em algumas obras de ficção. E também
vemos um lado mais suave de Thomas, sob sua máscara meio que de uma versão mais
romântica de Sherlock Holmes, certo? Você pode nos falar um pouco sobre a
inspiração para esses dois personagens?
Antes de escrever o primeiro rascunho, eu fiz um monte
de anotações e esboços, muitos dos quais incluíam detalhes dos personagens.
Tudo: desde os traços de personalidade a suas necessidades e seus desejos, o
que os impedia de conseguir essas coisas, árvores genealógicas e também
descrições físicas. Eu queria ter como base para os meus personagens principais
os personagens de Sherlock e Watson, mas
desejava que meu Watson fosse a inteligente doutora em treinamento para o jovem
Sherlock de Thomas. Eles dois meio que surgiram daí e tinham suas próprias
ideias de como eles queriam que suas histórias fossem contadas. Thomas, por exemplo, é um
personagem que nunca parece fazer ou dizer o que eu acho que ele dirá ou fará.
É bem divertido escrever as conversas provocativas entre esses dois.
5. Luz e trevas, ordem e caos, vida e morte, amor e
ódio... esses são temas constantes em toda a literatura, e podemos vê-los em
seus livros também. No entanto, Audrey Rose fala sobre uma escuridão em si
mesma, que está logo ali, arranhando, embaixo da superfície. Eu acho que essa
dicotomia simplifica um pouco as coisas, você não acha? Qual sua opinião a
respeito disso? Porque nos seus livros existem vilões, sim. Mas também há
personagens complexos, com variações nos tons de cinza em suas personalidades e
suas ações.
Para mim, alguns dos personagens mais interessantes
são aqueles que não são bons nem maus, mas que ficam em algum lugar aí no meio.
Quando escrevo um vilão, eu não quero simplesmente pintá-lo em tons de preto e
branco; eu acho mais verdadeiro e realista capturar sua humanidade. Fazer com
que as pessoas os entendam, mesmo que fiquem horrorizadas com esse mesmo
entendimento. Serial killers não ficam andando por aí com garras e presas, eles
geralmente são as pessoas comuns da vizinhança. Aqueles que se voluntariam para
dar comida aos sem-teto, participam de funções na cidade, acenando enquanto
levam seus filhos para o playground. Eles têm um carisma que atrai suas
vítimas, mas então eles soltam suas trevas. Considero Audrey Rose interessante
porque ela sabe que abrir um cadáver não é algo fascinante para todo mundo. Ela
sabe que existe uma parte sua que gosta disso, mas também sabe que suas ações, embora
vistas pela sociedade como sombrias e horrendas, estão, na verdade, levando aos
avanços científicos que podem ser úteis no futuro.
6. A Era Vitoriana é encantadora, bem, de certa forma,
e, pelo menos na arte, hehe, e alguns escritores tendem a optar pelo caminho do
steampunk ao escreverem sobre esta época específica. Por que você optou por
escrever ficção histórica em vez de steampunk?
Haha, definitivamente uma das eras que fico feliz de
visitar em livros e na tela da TV, mas sou grata por não viver nela!
Espartilhos são lindos de se ver, mas ser forçada a usá-los o dia todo? Argh!
Ficarei com eles para vesti-los no Halloween! Eu sou uma grandessíssima fã de
romances de fantasia e queria me desafiar a escrever um livro histórico que fizesse
parecer que eu estava entrando em um outro tempo e espaço. Com isso em mente,
eu queria me servir da ciência e da tecnologia que estavam de fato em uso
na Era Vitoriana, e então me afastei do embelezamento das coisas que nos leva
a adentrar o reino do steampunk. Fiquei tão maravilhada com o fato de que a
maioria dos procedimentos forenses que usamos nos dias de hoje estavam em
prática na época do caso do Estripador!
7. Apenas um gostinho do segundo livro para os
leitores... Assassinato no Expresso do Oriente! Eu vi o que você fez ali.
Referências, o quanto você gosta delas e como lida com elas?
Eu adoro fazer odes sutis aos clássicos no meu
trabalho, embora geralmente as incorpore de um jeito leve. Eu sempre adorei a
ideia do Assassinato no Expresso do Oriente, e os capítulos de abertura do segundo livro foram uma leve homenagem a
Agatha Christie. Então, sim, uns poucos Easter Eggs para que os leitores captem é divertido, mas
referências demais acabam fazendo com que a obra seja uma recontagem ou
reimaginação de uma história clássica. (Que eu também adoro, mas que não fiz
ainda!)
8. Você tem alguma experiência pessoal com medicina
forense?
Estudei arte na faculdade em Nova York, mas, em
determinado momento, realmente queria trocar de curso. Acabei mudando de
faculdade por um ou dois semestres, e fiz cursos de ciências e criminologia. Senti
como se tivesse morrido e ido para céu,
sério! Infelizmente, acabei voltando para a faculdade de artes.
9. “Magia é apenas a ciência que não
entendemos ainda”,
disse Arthur C. Clarke. Você concorda com isso? A maioria dos (senão todos os) eventos
por trás dos mitos dos vampiros quando as pessoas achavam que seus entes
queridos mortos eram mortos-vivos podem ser explicados pela ciência agora. O
que você acha de tudo isso?
Isso é, na verdade, um grande tema no terceiro livro!
Não vou atiçar muito... aham. Eu adorei explorar os mitos do vampiro através da lente
de uma estudante de medicina forense. É totalmente possível de se entender por
que as pessoas acreditavam que vampiros — ou alguma outra inexplicável força malévola
— eram responsáveis pelas mudanças em seus entes queridos. Mãos que se pensavam
ter sido transformadas em garras eram somente o produto do processo natural de
decomposição da pele recuando nas bases das unhas. Dentes mais longos ou sangue
nos cantos da boca eram apenas parte do que acontece com um corpo. Gases naturais
são, com frequência, responsáveis por empurrarem os cadáveres para fora do
chão, especialmente em um lugar de clima frio, onde as pessoas não podiam escavar
túmulos muito profundos no inverno, mas isso é bem mórbido e eu divaguei...
10. Sobre o livro 3, você disse em uma entrevista: Oh, e a história não se passa onde vocês podem achar
que se passará com base no fim de Príncipe Drácula… Eu sou uma autora
trapaceira e malvada. “Magia, travessura e caos” foi muito meu hino quando eu
estava escrevendo este livro, e pode ou não ser um romance que tem a vingança
como foco central... isso é tudo que posso dizer por ora!” A travessura foi feita e teve resultados. Como é a
sensação de poder torturar os leitores dessa forma?

11. Você pode mandar uma mensagem aos seus leitores brasileiros?
Não tenho palavras para expressar o quanto estou
empolgada em poder compartilhar essas histórias sombrias com vocês e espero que
gostem de lê-las tanto quanto meu coração gótico gostou de escrevê-las. São
exatamente os tipos de histórias que eu teria amado ler quando mais nova, e
posso apenas esperar que assustem vocês, que os deixem eletrizados, encantados,
e que durmam com as luzes acesas. Muito obrigada por todo o amor e por todo o apoio
nas redes sociais! Cada um de seus posts ilumina meu dia!
Ana Death Duarte
Tradutora de Kerri Maniscalco no Brasil
Redatora-Chefe do Blog em que vocês estão haha :P
Fotos: Ana Death Duarte / Bruno Roque / Divulgação
Fotos: Ana Death Duarte / Bruno Roque / Divulgação
Ps.: A primeira foto estilo instagrammer eu que tirei com luz natural <3
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