Minha fama de mau, o Bohemian Rhapsody brasileiro da Jovem Guarda
Lui Farias, filho do diretor Roberto Farias (Roberto Carlos
em Ritmo de Aventura, 1968) deu continuidade ao legado do pai ao adaptar a autobiografia
do cantor e compositor Erasmo Carlos, um dos grandes nomes da Jovem Guarda, no filme Minha fama de mau.
Lui introduz o filme misturando vários tipos de estilos para
iniciar a história, colocando elementos de narração em off, quebra da quarta
parede, cortando o filme como se fosse uma HQ, personagens saindo de pôsteres e
interagindo com o protagonista, de modo que parece que o diretor fica indeciso em relação à escolha do tipo de filme que ele quer fazer, deixando o primeiro ato um pouco
confuso.
A partir do segundo
ato, o diretor estabelece seu estilo e a trama fica mais fácil de se acompanhar. O roteiro mostra, sem pressa, a trajetória de Erasmo, como ele se interessou
pela música, suas maiores inspirações, mostrando o cantor subindo do anonimato até a
fama, mantendo o ritmo na apresentação do personagem aos poucos. A narração poética
do protagonista acaba realçando demais as cenas, apelando muito para o óbvio, mostrando exatamente aquilo que ele tinha dito.
Quando o roteiro começa a focar-se na amizade de Erasmo com o
cantor Roberto Carlos, a relação deles é muito bem contada, junto com a direção que consegue mostrar bem essa amizade sem tirar o foco anterior do filme, mostrando
como eles se conheceram devido ao mesmo gosto musical, como um ajudava o
outro na hora de compor suas canções, e como muitas das letras de suas canções são experiências de vida pelas quais os dois passaram, e muitas vezes, juntos.


A ambientação convence que o filme se passe nos anos de 1950, mas, mesmo ainda sendo convincente, a construção de época por meio dos cenários não
surpreende muito, já que muitos deles são internos, notando-se que foi
gravado em um estúdio, enquanto, para os cenários externos, foram usadas gravações
reais da época, o que causa uma certa nostalgia. No entanto, o que mais chama a atenção são os
figurinos, os quais remetem bem ao ano em que se passa o filme, e o vocabulário dos
personagens, servindo-se bastante gírias da época, o que pode até mesmo levar o público mais
jovem a achar graça do palavreado da Jovem Guarda.
Chay Suede faz
um bom trabalho interpretando o jovem Erasmo Carlos. Ele é ambicioso, malandro, não mostra arrependimento pelo que faz para alcançar o estrelato, nunca
abaixando a cabeça quando é pego se beneficiando, assumindo na maior cara
de pau o que ele fez, conquistando com seu carisma o público.


Gabriel Leone faz um Roberto Carlos muito parecido
com o original, fazendo bem o cantor galã com seu charme e talento que “arrasa
corações”.
Malu Rodrigues, que interpreta Wanderléa, não tem muita
participação na história, só está no filme porque a personagem é amiga da
dupla principal na vida real.
O trabalho de edição de som impressiona, misturando
com bastante equilíbrio e precisão as vozes dos atores com as vozes originais dos
cantores, o que confere mais autenticidade às cenas musicais, renovando esse velho
movimento musical, e causando nostalgia em quem ouve. As canções também são bem
encaixadas na trama, e vão agradar bastante o público mais velho que viveu
a Jovem Guarda.


Após o auge da carreira de Erasmo, o roteiro cai na
estrutura padrão, que vai do topo à decadência, mostrando o início do fim da Jovem
Guarda, do artista que não quer se adaptar aos novos movimentos musicais,
das separações e reconciliações, com diálogos bem previsíveis, o que deixa o filme
meio piegas a partir do terceiro ato.


Minha fama de mau é um filme que pode ser considerado
o Bohemian Rhapsody brasileiro da Jovem Guarda, que vai agradar aos fãs do
estilo musical, e possivelmente despertará o interesse do público mais novo.
NOTA: 7 músicas na onda do iê-iê-iê.
Há um livro homônimo, lançado em 2009 pela Editora Objetiva:
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Antecipadamente agradeço, A Capitã
Trailer do filme:
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