Análise de jogo: Fran Bow, a dissociação da realidade refletida nos traumas infantis
Por: Catherine Meira
Contém leves spoilers do jogo
Olá pessoal! Tudo bem?
Acho
que a essa altura todos já perceberam que meus maiores hobbies são jogos e animes. Por isso, acho que até demorei para
escrever sobre esse jogo em especial, que apesar de não ser muito grande (foram
12 horas de jogo), causou uma grande impressão em todos os fãs de terror da
Steam.
O
jogo independente Fran Bow, da
produtora sueca Kill Monday Games,
traz um enredo surpreendente de terror psicológico e enfermidades da mente e
alma. Nele, você joga como Fran, uma garotinha cujos pais foram brutalmente
assassinados (e esquartejados em um cenário que remete a um tipo de ritual
satânico) em casa. Ao fugir da cena com seu gato, Mr. Midnight (Senhor Meia-noite),
Fran acaba ficando inconsciente no bosque e acorda em um sanatório, onde foi
diagnosticada com esquizofrenia devido às visões que teve na noite da morte de
seus pais (uma criatura demoníaca ensanguentada e com grandes chifres) e pelo
fato de conseguir ter diálogos reais com seu gato.
No
sanatório, Fran busca uma maneira de fugir e encontrar Mr. Midnight, sua única
família ainda viva. Há outras crianças com as quais ela se relaciona e com quem
busca informações, todas com diferentes distúrbios, traumas e algumas vítimas
de abuso sexual.
O
jogo se passa no período da Segunda Guerra Mundial. O doutor encarregado do
sanatório faz experimentos com crianças, tendo preferência por gêmeos, o que
nos remete ao cenário real de experimentos em humanos nos campos de
concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No sanatório, todos são
calados, tanto as crianças quanto os funcionários opressores que ministram um
medicamento único, que parece ser o grande motivo do silêncio geral. Os funcionários
se esforçam para convencer as crianças de que elas não estão bem e que, muito
provavelmente, nunca ficarão. Em especial, há um tipo de pílula que Fran não
pode tomar, que são as pílulas vermelhas. O curioso é que, por algum motivo,
Mr. Midnight diz que Fran precisa dessas pílulas, e é claro que ela precisa
ouvir seu melhor amigo!
Ao
conseguir as pílulas, acontece uma estranha distorção no jogo. Lugares onde
havia apenas crianças quietas se tornam lugares infestados de sombras e
mensagens de sangue nas paredes. O ambiente muda completamente quando Fran toma
as pílulas e a criatura com chifres continua a persegui-la, mas por quê?
Apesar
do medo e das distorções, Fran jamais desistirá de encontrar Mr. Midnight e um
caminho para casa. Ela segue com seu plano de fuga, lidando com funcionários
abusivos e até mesmo pedófilos, para conseguir escapar do sanatório. Mas o que
ela enfrenta do lado de fora pode ser ainda mais assustador. Mesmo com Mr.
Midnight ao seu lado, ela ainda precisa se livrar da criatura que a persegue e
descobrir o que aconteceu com seus pais. Mas como seguir em frente quando não
se sabe o que é ou não real?
O
clima tenso e a música ambiental do jogo fazem com que consigamos sentir cada
emoção de Fran. O jogo é no estilo “point-and-click” e é fundamental usar as
pílulas em todos os lugares para descobrir o que está escondido. Do que gostei
em particular foram os puzzles, alguns bem difíceis e que o fazem perder alguns
minutos antes de continuar o jogo, mas todos divertidos.
Em
algum ponto você vai se perguntar: o que é ou não real? Será que a realidade
acontece com ou sem as pílulas? Onde Fran realmente está? Como ela foi parar naquele
lugar? Quem realmente matou seus pais? Será mesmo que Fran não sabe? Quem é Mr.
Midnight realmente?
O
jogo mostra com detalhes como o abuso pode arruinar a vida e mente de uma
criança. Temas como pedofilia, abuso infantil e agressões são grandes tabus mostrados
em detalhes nesse jogo. E por que não seriam? Apesar de desagradável, são os
tipos de acontecimentos que moldam os medos, receios e limitações de Fran. Essa
reflexão também serve para cada um de nós.
Muitas
pessoas passam a vida toda lutando contra a programação mental que receberam na
infância, lutando contra os medos, fobias e traumas. Mesmo sem entender nada
disso, Fran continua com sua busca pela verdade. Ela enfrenta seus demônios
mesmo se medicando e luta contra todos os seus medos para descobrir a verdade e
resgatar as pessoas que ama. Apesar de todo o sofrimento e de toda a dor, ela
ainda acredita que pode ser feliz com Mr. Midnight e, a cada vez que ela chora
e pensa em desistir, ele está lá para abraçá-la e consolá-la.
Esse
jogo com certeza o fará pensar no tipo de motivação que não só Fran, mas todos
nós temos para levantar todos os dias e lutar contra nossos demônios. Ele
mostra como a esperança de que tudo vai ficar bem é forte e nos motiva e seguir
em frente, um dia após o outro. Mostra como nossa mente pode nos pregar peças e
que, mesmo sem alucinações ou enfermidades, muitas vezes distorcemos a
realidade e não sabemos o que é real ou não.
Fran
Bow é um jogo que realmente merece 10 estrelas! Ele custa R$27,99 na Steam, que
disponibiliza uma demo grátis para quem quiser conhecê-lo.
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