Com amor, Van Gogh: O retrato da depressão em meio às noites estreladas
CONTÉM SPOILERS - Se quiser ler apenas uma crítica do filme, sem spoilers, clique aqui.
Assim
como muitas pessoas, conheci as obras de Vincent Van Gogh na escola, em meio àquelas
aulas de educação artística em que sempre aprendemos a amar um estilo, autor ou
obra. O que eu não sabia naquela época era sobre a profundeza de sentimentos
que podem ser expressados em uma pintura, muito menos o que realmente era
depressão e como isso poderia afetar o trabalho de uma vida toda. Ver esse
filme me deu muito em que pensar e, infelizmente, demorei mais do que planejava
para escrever essa análise, principalmente por não saber por onde começar...
O
filme começa um ano após a morte de Van Gogh, em 1891. Armand Roulin recebe de
seu pai uma carta de Vincent para Theo Van Gogh, que não havia sido entregue, e
recebe também a missão de entregar a carta do falecido. Assim como muitos na
cidade de Paris, que até mesmo fizeram petições para que Van Gogh fosse expulso
da cidade, Armand não gostava de Vincent e não via sentido em entregar uma
carta de um homem morto. O que realmente o incentiva é a frase de seu pai: se
eu estivesse morto e deixasse uma carta, você não gostaria de lê-la?
Assim,
Armand parte em uma jornada para encontrar Theo, apenas para descobrir que o
mesmo pereceu junto de seu irmão. Insatisfeito por não poder completar sua
missão, Armand parte em uma jornada para descobrir o que aconteceu com Vincent
e, assim como seu pai, não acredita que tenha sido um suicídio.
Artistas
como Vincent, muitas vezes, possuem almas atormentadas. Eles expressam beleza e
a veem em tudo o que existe, menos em si mesmos. É uma vida dedicada aos
outros, a outras existências, uma eterna busca por sentido, mas nunca voltada a
si mesmo. Acredito que esse seja um bom resumo do quadro que leva à depressão.
A depressão é a perda de sentido em si mesmo e na vida que levamos. O que
realmente queremos é um significado para nossa existência, saber que tudo isso
não é em vão, que os valores básicos de amor e bondade que aprendemos na
infância não devem se perder com o tempo.
Nascemos
na incerteza e, por mais que aprendamos, continuamos a conviver com ela por
toda nossa vida. Não estamos certos de quando tudo vai acabar, ou do que nos
trouxe aqui e isso causa ansiedade, depressão e pânico. Vivemos com medo e
receio e deixamos de aproveitar e perceber os pequenos milagres que nos
rodeiam. Ficar ao ar livre, sentir a brisa, ver o movimento das folhas com o
vento, sentir o cheiro da grama e a sensação calmante da natureza, ouvir as
pessoas ao redor e o canto dos pássaros, livres de julgamentos, estes são pequenos
milagres diários que deixamos de aproveitar em uma sociedade “desenvolvida”.
Assim
foi com Vincent, que desejou ser uma alma livre e buscar um significado em meio
a uma sociedade que almeja apenas conforto e o desenvolvimento que é imposto
desde a escola. Assim foi com Charles Bukowski, anos depois, chamado de
vagabundo porque decidiu desde cedo que viveria de sua escrita, mesmo que demorasse a lhe render frutos, e só foi descobrir o que era conforto aos 70 anos. Assim é com
muitas pessoas que não querem fazer parte de uma massa que muitas vezes é
obrigada a vender seus sonhos para sobreviver.
A
grande busca de Armand é a busca que todos nós fazemos ao lidar com o suicídio.
O que leva uma pessoa a isso? Por que alguém que diz estar bem e completamente
calmo tira a própria vida? Como isso é visto pela sociedade?
Acho
que é clichê usar frases como “as pessoas precisam começar a ver depressão como
doença”. Todos sabem disso. Mas como identificá-la? Talvez aquele seu amigo chato
que desmarca os rolês tenha algo a mais que preguiça. Talvez aquela pessoa que
demora para responder e recusa seus convites não seja apenas esnobe. Talvez
aquele bom ouvinte que sempre te ajuda tenha problemas bem maiores sobre os
quais não fala. O mundo precisa de mais empatia. Nós precisamos de mais
humanidade.
Super
indico esse filme como forma de reflexão e também pelo belo trabalho de arte
feito nele, completamente pintado à mão. No decorrer do filme, você verá
diversas pinturas de Van Gogh tomando espaço e entenderá um pouco mais sobre o
criador de “noite estrelada”.
Para
finalizar, gostaria de deixar uma música do cantor e compositor Don Mclean
(famoso por American Pie, a música, não o filme) sobre o pintor. Espero que
gostem!
Em DVD, pela A2filmes, aqui.
Comentários
Postar um comentário