#momentotelecine – O chamado e por que fantasmas orientais são aterrorizantes!
Em uma típica “girls night”, uma garota conta à amiga sobre a
viagem que fez com dois amigos e seu namorado para um belo chalé no campo. Lá,
eles encontram uma fita muito singular, com um conteúdo que não podia ser
descrito, mas que os deixara extremamente perturbados. Ao final do filme, o
telefone toca e uma voz feminina e infantil diz “sete dias”. Ninguém entende o
que realmente acontece e isso, claramente, parece um trote. Continuaria assim
se a amiga que contou a história não tivesse morrido repentinamente na sétima
noite, em sua própria casa, de uma maneira macabra e inexplicável.
Assim, a jornalista Rachel busca entender o que realmente aconteceu
com sua sobrinha e com os outros quatro jovens que morreram misteriosamente
após a viagem e o porquê de ser tão repentino. Indo à mesma cabana que ouve
seus amigos comentarem, ela encontra um vídeo misterioso e o assiste, recebendo
uma ligação pouco depois de fazê-lo. Ela decide investigar esse vídeo e o leva
para Noah, seu antigo namorado e pai de seu filho, Aidan. Em um primeiro
momento, eles obviamente têm suas dúvidas sobre o que realmente está por trás do
filme, mas Rachel não pode ignorar os sinais, que vão desde marcas de mãos em
seu corpo até pedaços de madeira sendo vomitados sem motivo algum. Tudo piora
quando Rachel encontra seu filho, Aidan, assistindo ao filme e o telefone toca. A
partir daí ela precisa correr contra o tempo para salvar seu filho e a si mesma
dessa maldição inexplicada.
A versão original do filme (Ringu - do qual a Ana jpa falou aqui) foi lançada em 1998 no
Japão. Em 2002, a versão americana “The Ring” - O Chamado veio às telas e foi um sucesso de
bilheteria imediato. Mas o que essa história tem de tão especial para competir
com os grandes nomes do terror americano e se tornar um clássico?
“Quando entrevistado na ocasião do
lançamento da produção, Nakata afirmou que o Japão é um país com a sua própria
tradição de histórias fantasmagóricas, numa abordagem que se apoia na tarefa da
crítica de cinema e subdivide o gênero em fases, ao apontar que nos anos 1940 e
1950, os monstros estavam no auge, seguidos das décadas de 1970 e 1980,
estéreis em termos de produção, retomada nos anos 1990. A história da fita
amaldiçoada é um dos grandes responsáveis por esse período de resgate dos temas
de horror que caracterizam uma forma peculiar de articulação da tensão e do
medo. Assim, em seu processo de tradução cultural, elementos ocidentais foram
equilibrados para a transformação da história que mantém, em quase todos os
aspectos, a mesma estrutura dramática.” Fonte
Em um outro post que comento sobre yurei, explico a principal diferença entre eles e os fantasmas com que
estamos acostumados no cinema. Uma temporada de Supernatural é o suficiente
para que todos saibam como o cinema americano lida com espíritos: sal, fogo e
ferro são o suficiente para afastá-los. Infelizmente, o mesmo não é verdade
quando falamos de yurei. Essa lenda
é muito bem explicada ao público ocidental na franquia O grito, em que o narrador nos diz que quando alguém morre com ódio e
de maneira violenta, seu espírito atormentado fica preso ao lugar da morte e
revive seu tormento em um loop eterno, amaldiçoando todos que cruzarem seu
caminho, mesmo que por acidente.
Essas lendas fazem parte do folclore japonês e são muito
comuns (e adoradas por alguns fãs de terror): Kuchisake onna, Toire no Hanako,
Teke-teke e os famosos fantasmas dessas franquias de terror, Sadako e Kayako
(que até estrelaram um filme onde as duas se enfrentam, já linkado acima, mas que repito aqui). Também estão em
franquias populares de jogos de terror, como Fatal frame. Não existe uma maneira de banir esses espíritos e,
independente do que façam, eles sempre estarão no mesmo lugar, revivendo sua
morte e amaldiçoando todos os que cruzam seu caminho.
Em sua pesquisa, Rachel descobre que a fita conta a história
da garota Samara, que morreu de maneira brutal ainda na infância e dedica seus
sete dias a tentar descobrir o que realmente aconteceu com a garota e como
salvar os desavisados que assistem. A princípio ela acredita ter descoberto a
verdade e libertado a garota de seu sofrimento, mas tudo o que ela fez foi
conceder ao espírito enraivecido novas e mais assustadoras ferramentas para
continuar sua vingança! Isso é uma particularidade estranha aos filmes sobre yurei: parece que sempre que alguém tenta libertá-los ou ajudá-los, acabam tirando uma limitação deles e espalhando mais o terror (vide a própria Samara, que começa a matar de maneiras mais aterrorizantes ao ser libertada).
Esse tipo de filme particularmente veio em um momento muito
oportuno, quando o cinema já estava saturado do mesmo tipo de terror. Depois
disso, diversos remakes de filmes clássicos e novos filmes com espíritos e
maldições viraram líderes de bilheteria, mas ainda falta algo quando falamos em
terror ocidental. Diferente do filme original, parece que a compreensão
americana desses espíritos não os deixou tão assustadores. É claro que a
história é envolvente, assustadora e Samara também o é, mas falta uma
caracterização que só os criadores dessas lendas conseguem dar! Sadako
consegue, originalmente, ser um espírito mais assustador que sua versão americana,
Samara, assim como os atores da versão japonesa conseguem dar mais veracidade
ao horror sugerido no filme.
Se você é um fã de terror, sugiro que assista a ambos! Com
certeza vai adorar o que o original e o remake têm para compartilhar. Se estiver
curioso, mas com medo, recomendo muito essa versão disponível no Telecine Play!
O chamado é um must watch e Samara
com certeza fará parte de seus pesadelos por um bom tempo! A quadrilogia de Ringu, o original japonês, saiu em DVD pela A2Filmes.
Esse filme ganha 5 de 5 poços sem fundo em qualquer versão!
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