A guerra de Anna e a corajosa sobrevivência de uma criança judia na Segunda Guerra Mundial
Todos conhecemos a história de Annie Frank e o diário que
escreveu durante a Segunda Guerra, período em que passou presa em um sótão com sua
família judia. Vamos diminuir esse espaço e tornar tudo um pouco mais
assustador? Provavelmente não foi a intenção, mas foi o que o diretor Aleksey Fedorchenko conseguiu ao
colocar a pequena Anna em uma chaminé na sede nazista na Rússia durante a
execução de judeus.
Logo no início, podemos ver Anna lutando para sair de uma
cova rasa, abrindo caminho por entre os braços de sua mãe, nua e pálida. O
abraço da mãe foi o suficiente para que Anna sobrevivesse à execução e fosse
protegida durante o “funeral”. Em meio a essa cena lúgubre, a criança de seis
anos consegue chegar até onde uma família de idosos e crianças que a acolhem por um
breve momento. Porém, com medo da punição nazista, eles entregam a pequena ao
quartel general nazista, na esperança de não terem nada a ver com esse período
negro imposto pelo Terceiro Reich.
Chegando ao local e sentindo o perigo iminente, Anna foge e
se esconde na chaminé de um dos escritórios da sede. Ninguém é capaz de achá-la
e, julgando que a menina escapou e seria apenas questão de tempo até receber a
devida punição de um oficial nazista, seu captor deixa de procurá-la. Anna
encontra um novo lar naquela chaminé e faz dela sua morada pelo tempo
necessário para sobreviver aos terrores da guerra nazista. Encontrando uma
falha na parede logo acima do espelho, ela passa a observar o trabalho diário
dos oficiais e das belas mulheres que trabalham no escritório, rezando para que
sobras de comida e água sejam esquecidas após o expediente.
Além de uma vigorosa sobrevivente, Anna se apresenta como uma criança inteligente, corajosa e destemida. Vendo coisas que nenhuma criança de sua idade deveria ver, o cadáver da mãe, a execução de uma mulher no escritório e a perda do único amigo que a ajudou a manter a sanidade durante esse período de provação, ela consegue manter sua humanidade e inocência (de certa forma) tempo o suficiente para transformar o pequeno e enlouquecedor espaço ao que fora confinada em um lar. Um gato amarelo que aparece todas as noites se torna sua família e a ajuda a manter sua idade psicológica, trazendo a inocência e amor da criança a tona. Psicologicamente, o filme é muito bem construído, mas ao mesmo tempo é perturbador ver uma criança de apenas seis anos se aventurar tão vigorosamente no campo inimigo, como citado na resenha de Jay Wessberg:
“Toda noite ela se aventura fora da chaminé para explorar a
construção, apenas um quarto por vez. Há um estúdio de arte com modelos écorché
e esqueletos de animais que fariam a maioria das crianças tremerem; ao invés
disso, ela bebe a água de uma jarra usada para limpar pincéis avidamente. Ela
pega sobras de ratoeiras, suga a cola de brochuras de livros e com esperteza
captura uma pomba e a assa em uma chama. Ela até mesmo tira a pele de um lobo
empalhado e faz uma capa de pele.”
O filme peca em desenvolvimento em algumas partes: nada antes
da chaminé é bem explicado, não sabemos como a garota foi parar ali e onde ela
estava antes. Apenas acontece. Além disso, o jeito como a história é finalizada
também nos deixa um leque de perguntas sem respostas, mas também nos deixa
muito espaço para interpretar e imaginar quais serão os passos de Anna ao sair
de lá.
Recomendo muito esse filme para quem gosta de entender o que
o nazismo fez ao mundo, o sofrimento que esse período da história impôs sobre
várias vidas e a resignação necessária para lidar com tempos sombrios. O sofrimento
expressado pela atriz é muito vívido e o papel muito bem interpretado. A jovem
Marta Kozlova está de parabéns por sua atuação e principalmente pela frase a
seguir:
"Fiquei muito feliz em ser filmada com um gato."
"Fiquei muito feliz em ser filmada com um gato."
Esse filme ganha 3 de 5 suásticas e fica aqui minha
indicação!
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